O avanço das modernas tecnologias contribui para o desenvolvimento do agronegócio brasileiro, mas é importante ter alinhamento com os produtores rurais.
“Na década de 1960, o Brasil importava alimentos básicos, como carne, leite e grãos. Já na década de 1970, o país viveu surto de industrialização e urbanização, que poderia causar desaceleração de crescimento, caso a alimentação da população não recebesse a atenção necessária. No final do século XX e início do século XXI, o país se tornou exportador e virou uma potência agropecuária”. Essas são as palavras de Bruno Brasil, Secretário de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa, na introdução da palestra “5 décadas de inovação no Agro – Uma avaliação do desenvolvimento do setor Agro no país”, na reunião do Comitê de Produtos e Serviços, da Associação Brasileira de Marketing Rural e Agro (ABMRA).
“Em solos tropicais, como no Brasil, há vantagens físicas, como a presença do sol o ano total e altas temperaturas, mas não existem boas características químicas ou biológicas para a agricultura. Isso quer dizer que o solo brasileiro é normalmente ácido e pobre, o que nos remete muito mais à dependência de fertilizantes. Nós usamos muito mais esses produtos do que usaríamos se estivéssemos em terras de latitudes temperadas e que são mais ricas em componentes químicos, como fósforo e nitrogénio”, explica o Secretário da Embrapa.
Para Bruno Brasil, quando se olha a faixa intertropical do globo, nenhum país com paralelo de produção agropecuária é igual ao Brasil. Todos os grandes produtores e exportadores de alimentos estão nas faixas temperadas do planeta. É o caso de Estados Unidos, Canadá, Europa, China e Austrália. “Portanto, o desafio que se colocava naquela década era conseguir alimentar a população que estava crescendo e se industrializando. O Brasil precisava desenvolver um novo modelo de agricultura tropical e isso foi iniciado quando expandimos a fronteira agrícola, que antes se restringia à região Sul e foi até o Centro-Oeste”.
A 8ª Pesquisa ABMRA de Hábitos do Produtor Rural também foi destaque na reunião. Diferentes pontos de vista sobre a digitalização do agro foram pontuados pelos participantes do debate. Para o presidente da ABMRA, Ricardo Nicodemos, é preciso respeitar e valorizar aqueles que vieram antes da tecnologia. “O Brasil se transformou em uma potência no agro devido ao esforço dos produtores rurais. Não podemos esquecer de quem está por trás disso tudo, ou seja, o ser humano precisa estar incluso em qualquer estratégia”.
Nicodemos completa: “O mundo virou digital e o nosso compromisso é mostrar e ensinar aos produtores como usufruir disso. Para isso, precisamos entender as características de cada um. É o que eu tenho propagado aos nossos associados e às empresas do agro como um todo”.
Outro ponto levantado pelo presidente da ABMRA é a preocupação com a formação da nova geração que está assumindo o campo. “É baixo o número de produtores com formação acadêmica. No entanto, a indústria pode contribuir com isso, incentivando cursos técnicos e preparando a nova geração de líderes. Não adianta trabalhar a tecnologia nas fábricas e não ter mão de obra. Então, é preciso equilibrar esses dois pilares”, diz.
Ressaltando a mensagem do presidente da AMBRA, Matheus Macedo, Coordenador do Comitê de Produtos e Serviços, afirma que a troca de informações com os produtores é necessária. “Temos que ter cuidado quando tomamos alguma decisão. Não tem como dar um passo para frente só pensando em quem está no escritório. É importante olhar a equipe técnica e o consultores de campo também. Toda opinião importa. Às vezes, queremos desenvolver uma tecnologia, mas o produtor ainda usa a caderneta e nem sabe mexer com algo mais desenvolvido ou tecnológico”, explica Macedo.
Já Fernanda Ibañez, diretora da ABMRA e responsável pelo projeto ‘Comitês ABMRA’, reforça que inovar exige muito tempo. “Muitas vezes somos exigidos a pensar, mas a rotina não nos deixa desenvolver algo inovador para o negócio. A pluralidade leva tempo”, comenta.
A reunião do Comitê de Produtos e Serviços é comandada por Fernanda Ibañez, diretora da ABMRA e responsável pelo projeto ‘Comitês ABMRA’, e Matheus Marinho, Coordenador do Comitê de Produtos e Serviços. Ela é exclusiva para Associados da entidade e convidados especiais. Profissionais de empresas não associadas também podem participar para que conheçam a dinâmica dos Comitês ABMRA.