Advogado e presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) em Peixoto de Azevedo (distante 674 quilômetros de Cuiabá), Marcus Giraldi discutiu e tentou agredir uma policial civil dentro da delegacia onde ela trabalha, em Guarantã do Norte. Eles se desentenderam enquanto o advogado tentava conversar com alguns clientes seus que estão detidos na delegacia.
O caso ocorreu na manhã da sexta-feira (15). Aos gritos, ele empurra a agente para fora de uma sala enquanto é gravado pelo celular. “A senhora me respeite, eu, como advogado, tenho o direito de falar. Chama a delegada, vai”, disse o advogado dando socos numa mesa.
Nas imagens, é possível ver o momento em que o advogado chega na delegacia, enquanto a policial levava presas ao banheiro, pois acumula funções. A discussão começa e o vídeo começa a ser feito. Ele manda a policial chamar a delegada e a investigadora tenta explicar o que fazia. "O senhor está sendo mal educado. Eu estava lá no fundo cuidando das presas, estou sozinha e tem um monte de presos aqui", contou a policial que disse que no momento da confusão estavam detidas 12 pessoas na delegacia, das quais 6 eram mulheres.
Porém, o advogado não se conforma com as explicações, bate na mesa, aponta o dedo e grita com a servidora pública. "A lei diz que eu tenho direitos. Se acha que está certa, mete a algema em mim e me prende, pede apoio. Se coloque no seu lugar, me respeite enquanto advogado. Se quer se achar melhor que todo mundo, se ache, mas me respeite", disparou.
OUTRO LADO
Em áudio enviado à TV Centro América, o advogado afirmou que o vídeo gravado pela policial não está completo. Ele contou ainda que, constantemente, a policial que gravou o vídeo tenta impedir que advogados exerçam sua profissão na delegacia de Guarantã.
Ainda segundo o advogado, a policial chegou a percebe-lo na entrada da delegacia, mas só resolveu abrir a porta cerca de 15 minutos depois. "Eu já tinha conversado com o delegado regional Geraldo Gezzoni, prevendo que ela poderia causar um problema com relação ao acesso. Eu entrei na delegacia e ela disse que não podia, que estava sem mal educado, como vocês puderam ver no vídeo. Eu disse que iria entrar porque a lei me permite esse direito, pois eu estava no exercício da minha profissão, precisava falar com minhas clientes e a lei me garante esse exercício".
Giraldi frisou que, na sequência, admitiu ter falado de "forma incisiva" com a policial. "Bati no balcão e falei pra ela se colocar no seu lugar de servidora pública. Porque como servidora é obrigada a seguir a lei, que diz que quando ela está de plantão é obrigada a deixar o advogado falar com os clientes dele", explicou.
O advogado contou que voltou a entrar em contato com o delegado regional, que teria reforçado o direito dele em falar com suas clientes. Ele ainda pediu que a policial compartilhe o vídeo de forma integral.
A OAB seccional de Mato Grosso também saiu em defesa do advogado. Segundo a instituição, Marcus Giraldi teve sua prerrogativa de advogado violada. Além disso, reforçou que as informações preliminares apontam que não houve agressão por parte do advogado contra a policial.
FALTA DE PESSOAL
Em entrevista à TV Centro América na manhã desta segunda-feira (18), a presidente do Sinpol (Sindicato dos Agentes de Polícia Civil de Mato Grosso), Edleusa Mesquita, disse que a entidade de classe dará todo suporte e apoio à trabalhadora. “A policial imediatamente entrou em contato com o Sinpol comunicando o fato, encaminhando os vídeos. Uma atitude desprezível do advogado. Sabemos que eles têm suas prerrogativas, mas têm que respeitar o agente público, que naquele momento estava representando o Estado, custodiando 12 presas sem efetivo na unidade em Guarantã do Norte, sozinha, no período noturno. Comunicamos várias vezes os MPs (Ministério Público) de cada município sobre as situações”, disse.
Edleuza também contou que cotidianamente não só o MP, mas também a Sesp (Secretaria de Segurança Pública) e seu titular, Alexandre Bustamante, são informados das situações que ocorrem não só em Guarantã do Norte, mas em praticamente todas as delegacias de Mato Grosso.
“Nós comunicamos o que os agentes padecem virando plantões sozinhos, deixando delegacias fechadas para levar presos ao banheiro porque as celas não têm banheiro. No caminho, o advogado chega batendo na porta. Estamos entrando na OAB com uma representação contra esse cidadão que deveria ter uma postura diferente em relação ao servidor pu´blico, ao estado ali presente. Estamos novamente comunicando o secretário de segurança pública do desvio de função. Não dá pra ter desvio, não dá pra uma pessoa só cuidar de presos e trabalhando na delegacia, cuidando de doze presos em só uma unidade”, continuou.
