Em Mato Grosso, os desastres nas ruas e estradas que cortam o Estado já deixaram 44.609 feridos nos últimos dez anos, ao custo direto de mais de R$ 56,8 milhões para o Sistema Único de Saúde (SUS). No Brasil, a cada 60 minutos, em média, pelo menos cinco pessoas morrem vítimas de acidente de trânsito. Entre 2009 e 2018, foram mais de 1,6 milhão de vítimas, resultando num desembolso da ordem de R$ 3 bilhões. Os números fazem parte de um levantamento elaborado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), divulgados ontem (23), em Brasília (DF), durante um evento nacional para discutir esse problema que atinge proporções epidêmicas.
Conforme o levantamento do CFM, no período, houve um crescimento de 33% na quantidade de internações em todo o país. No Estado, esse incrementou foi de 40% saltando de 3.029 internações em 2009 para 5.029, em 2018. Porém, a quantidade registrada no território mato-grossense, no ano passado, foi menor que em 2016 e 2017, quando ocorreram 6.062 e 6.126 hospitalizações respectivamente. Ainda em Mato Grosso, os custos saltaram de pouco mais de R$ 4,8 milhões, em 2009, para R$ 5,5 milhões, em 2018, valor um pouco menor que o ano anterior quando o investimento foi da ordem de R$ 6,4 milhões.
O CFM aponta que o pior cenário, proporcionalmente, foi identificado no estado de Tocantins, que saiu das 60 internações, em 2009, para 1.348, no ano passado (aumento de 2.147%). Na sequência aparece Pernambuco, onde o salto foi de 725% na última década. Apenas cinco estados registraram queda no número de internações por acidente de transporte: Maranhão (redução de 40%), Rio Grande do Sul (22%), Paraíba (20%), Distrito Federal (16%) e Rio de Janeiro (2%).
Para o coordenador da Câmara Técnica de Medicina de Tráfego do CFM, José Fernando Vinagre, os números mostram que os acidentes de trânsito constituem um grave problema de saúde pública e que provoca sobrecarga nos serviços de assistência, em especial nos prontos-socorros e nas alas de internação dos hospitais. “É preciso reconhecer o importante aprimoramento da legislação ao longo dos anos e também o aumento na fiscalização, especialmente após a Lei Seca. No entanto, precisamos avançar nas estratégias para tornar o trânsito brasileiro mais seguro”, disse por meio da assessoria de imprensa.
Na análise do CFM, a cada hora, em média, cerca de 20 pessoas dão entrada em um hospital da rede pública de saúde com ferimento grave decorrente de acidente de transporte terrestre. “Ao avaliar o volume total de vítimas graves do tráfego nos últimos dez anos (1.636.878), é possível verificar que 60% desses casos envolveram vítimas com idade entre 15 e 39 anos, sendo menor a frequência nas faixas etárias que vão de zero a 14 anos (8,2%) e em maiores de 60 anos (8,4%). Outra constatação: “quase 80% das vítimas eram do sexo masculino”, informou o Conselho.
Para o presidente do CFM, Carlos Vital, a solução para reduzir os acidentes depende de uma série de fatores de prevenção, reforço na fiscalização e sinalização, além de questões de infraestrutura e aprimoramento dos itens de segurança dos veículos. “Neste contexto, os médicos desempenham papel fundamental nas discussões sobre direção veicular segura. O impacto desses acidentes nos serviços de saúde é alto. Leitos são ocupados, hospitais e médicos se dividem no atendimento entre os acidentados e os que procuram assistência médica para patologias que não poderiam prevenir, diferentemente dos acidentes de trânsito, que podem ser reduzidos e prevenidos”, destacou.
MORTES – O levantamento do CFM, que considerou ainda dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde, mostra que só em 2016 (ano mais recente disponível), foram registrados 1.013 óbitos decorrentes de acidentes de transportes terrestres em Mato Grosso. Em nível nacional, foram 37.345 mortes no mesmo ano. Já entre 2008 e 2016, foram 9.708 vítimas fatais no Estado.
Diretor da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet) e membro da Câmara Técnica do CFM, Antonio Meira Júnior, lembra que os custos com os acidentes de trânsito vão além das hospitalizações. “Estamos falando de um custo médio de aproximadamente R$ 290 milhões ao ano, que obviamente foi investido para salvar vidas, o que é justificável. Se conseguíssemos diminuir o número de vítimas do trânsito, no entanto, teríamos um impacto muito grande também nas contas públicas. São recursos que poderiam ser direcionados para outras áreas prioritárias da assistência em saúde no país”. As estimativas são de que cerca de R$ 50 bilhões ao ano são gastos com os acidentes, incluindo os atendimentos médico-hospitalar, seguros de veículos, danos a infraestruturas, perda ou roubo de cargas, entre outras despesas.