A Lei Áurea nº 3.353, foi sancionada pela Princesa Isabel, no dia 13 de maio de 1888. A referida lei concedeu liberdade total aos escravos que ainda existiam no Brasil, os afroS descendentes trabalhavam apenas pela comida. Havia barbárie, tortura, e tudo mais que a história conta, mas o resumo é os escravos trabalhavam tão somente para ter o direito de comer.
Passara-se séculos e hoje em Sinop artistas que estão sem direito de trabalhar por decretos, e logo sem o direito de prover o sustento para os seus, vão voltar no tempo e trabalhar por um prato de comida, como se suas necessidades se resumissem a arroz e feijão.
Triste contraste, uma gestão que gastou milhares de reais para realizar show na virada do ano, não poupou recursos para festividades natalinas, compra de iluminação com preços muito fora da realidade e pior placas de sinalização com preços no mínimo questionáveis, pede que artistas que não precisam de esmolas mas de trabalho, cantem e encantem por comida.
Diz a bíblia tão propagada por Alice na cidade Maravilha, todo homem é digno de receber por seu suor. Aqui não! Aqui você canta numa página oficial do poder público gerando seguidores para uma futura campanha e divulgação de conteúdos que nem sempre é do interesse público, e por cantar e encantar você talvez ganhe se as pessoas puderem doar, um prato de comida.
Vergonha, constrangedor! Numa cidade em que o dinheiro roda a solta nos bastidores do poder, não seria demais pedir que pelo menos um cache mínimo fosse pago a esses artistas que se dispuseram por amor a arte, cantar.
No conto Charles Lutwidge Dodgson, Alice pergunta ao gato pra onde deve ir e o felino a questiona: Para onde desejar ir menina? Ela responde não saber. O gato então diz: Se você não sabe para onde quer ir, qualquer lugar serve.
Alguns gestores estão assim, cercados de vaidade, achando que a comida basta, assim como os senhores no tempo de Isabel pensavam.
E pra finalizar um pedaço da letra de Arnaldo Antunes:
Você tem sede de que?
Você tem fome de que?
A gente não quer só comida,
A gente quer comida, diversão e arte.
A gente não quer só comida,
A gente quer saída para qualquer parte.
A gente não quer só comida,
A gente quer bebida, diversão, balé.
A gente não quer só comida,
A gente quer a vida como a vida quer.
