Investigações da Delegacia Especializada de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (Deddica) apontam que além de ter envenenado e matado a enteada Mirella Poliane Chue de Oliveira, de 11 anos, Jaira Gonçalves de Arruda, também, teria envenenado o avô paterno da vítima, Edson Emanoel. No curso das diligências, a Deddica solicitou exames que constataram a possibilidade da morte do homem ter sido causada também por envenenamento – ocorrida em março de 2018. A menina morava com o avô e, com a morte dele, ela ficou aos cuidados da indiciada.
O indiciamento da madrasta foi divulgado na noite de quinta (7) pela Polícia Civil.
Foi constatado ainda que Jaira teria cometido o crime sozinha, sem auxílio de outra pessoa. O pai da vítima não teve envolvimento direto e teria sido induzido a erro pela mulher. A madrasta conduzia e tinha o controle de todas as situações na família – financeira, educação, saúde e demais cuidados com a criança.
Para apurar as circunstâncias da morte do avô, Edson Emanoel, a Deddica solicitou exames, no curso das investigações, que constataram a possibilidade de envenenamento. Entretanto, para confirmar a suspeita, será necessária a exumação do corpo para coleta de material e exames, que possam apontar vestígios de veneno. Como já passou muito tempo que ele foi enterrado, isso pode não ser mais possível.
A Deddica solicitou à Justiça autorização para encaminhar uma cópia do inquérito à Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), para investigar a suspeita de envenenamento do avô de Mirella.
A indiciada teve a prisão temporária convertida em prisão preventiva pela Justiça e permanece em uma unidade penitenciária feminina. O inquérito será remetido ao Ministério Público Estadual.
Crime
Mirella Poliane morreu em junho deste ano, de causa inicialmente indeterminada. A criança deu entrada em um hospital privado de Cuiabá, já em óbito, e, como o hospital não quis declarar a morte, a DHPP foi acionada para liberação do corpo. Diante da evidência de morte violenta, a polícia solicitou perícia, por precaução.
Em princípio, houve suspeita de meningite, bem como de abuso sexual, mas laudo da necropsia feita pelo IML descartou o abuso.
A Politec coletou materiais para exames complementares e, conforme Pesquisa Toxicológica Geral realizada pelo Laboratório Forense, foram detectadas no sangue da vítima duas substâncias, uma delas um veneno que provoca intoxicação crônica ou aguda e a morte.
O caso foi então remetido à Deddica, que durante as investigações desvendou o plano de envenenamento em virtude da criança ter recebido uma indenização em decorrência da morte de sua mãe por erro médico, durante parto dela em um hospital de Cuiabá.
A equipe da Deddica concluiu que o crime foi premeditado e praticado em doses diárias, pelo período de dois meses. A indiciada causou a morte da menina usando o veneno, de venda proibida no Brasil, e ministrando gota a gota, entre abril e junho de 2019.
Motivação
As investigações apontaram que a indenização recebida pela criança foi a motivação do plano de envenenamento. A ação indenizatória foi movida pelos avós maternos da criança, que ingressaram na Justiça e neste ano, após 10 anos de tramitação do processo, a família ganhou a causa em última instância, cujo valor foi de R$ 800 mil, incluindo os descontos de honorários advocatícios.
Parte do dinheiro ficaria depositada em uma conta para a menina movimentar somente na idade adulta. A Justiça autorizou que fosse usada uma pequena parte do dinheiro para despesas da criança, mas a maior quantia ficaria em depósito para uso, após atingir a maioridade.
Até 2018, Mirella era criada pelos avós paternos. Em 2017, a avó morreu e no ano seguinte, em 2018, o avô também faleceu, passando a garota a ser criada, naquele mesmo ano, pelo pai e madrasta. A partir disso, teve início o plano da mulher para matar a criança com o objetivo de ter acesso ao dinheiro.
No inquérito, uma testemunha chegou a informar que o dinheiro "roubado" da menina foi usado para a compra de um terreno.
A mulher, presa no início de setembro, foi ouvida após a morte da menina e contou que convive com o pai da vítima desde que ela tinha dois anos de idade e que se considerava mãe da criança. Ela declarou que Mirella começou a ficar doente em 17 de abril de 2019, apresentando dor de cabeça, tontura, dor na barriga e vômito. (Com Assessoria)
